A maior parte dos seres humanos vivos atualmente nunca viram a projeção da Via Láctea no céu noturno.
Com o adensamento populacional em grandes cidades e a consequente impossibilidade de visualização dos astros na esfera celeste devido à poluição luminosa, o interesse pelo cosmos é cada vez menor, restrito a cientistas, astrônomos e entusiastas. O desconhecimento leva ao desinteresse e assim as ciências naturais, que se desenvolvem há séculos baseada em observações, vão perdendo espaço e relevância no senso comum.
Um artigo da revista Science Advances afirma que 80% da população mundial vive sob céus poluídos pela luz (Fabio Falchi, 2016), sendo um efeito colateral da industrialização que, no entanto, pode ter soluções de mitigação simples e de custo reduzido.
Em linhas gerais há uma familiarização global no que diz respeito à poluição do ar, do solo e da água, mas o conceito de poluição luminosa não é assimilado pela maioria das pessoas, mesmo tendo implicações diretas na saúde humana, nos ciclos biológicos da fauna e nas observações astronômicas, além de representar enormes desperdícios de energia e, consequentemente, de recursos financeiros (Dark Sky International, 2024).
Uma das ferramentas mais eficientes no apoio à educação, divulgação científica e à conscientização dos cidadãos sobre assuntos de interesse coletivo  é o uso de imagens. Neste sentido, a fotografia apresenta um enorme potencial em auxiliar o registro dos assuntos de interesse no céu noturno, fomentando o interesse pela astronomia, que traz consigo aspectos de diversas áreas do conhecimento como a física, a química, a biologia, as engenharias, o direito e a filosofia. Paralelamente, a mesma fotografia pode registrar e amplificar os efeitos da poluição luminosa, descortinando seus impactos de uma forma visual e estimulando a discussão sobre suas consequências no meio ambiente e na saúde humana.
A legislação ambiental brasileira que constituiu as Unidades de Conservação – UCs (Lei Federal 9.985/00 e Decreto Federal 4.340/02), acabou por estabelecer em alguns casos verdadeiros oásis do ponto de vista da paisagem natural, mesclados com grandes áreas urbanas.
Nesse sentido, o Estado de São Paulo, responsável por mais de 30% do PIB e 22% da população brasileira (IBGE, 2024) é o estado mais industrializado, abarcando diversas regiões metropolitanas. Consequentemente é a região do país com os maiores índices de poluição luminosa. Porém, o estabelecimento de UCs extrapola a conservação da diversidade biológica e sociocultural, criando também regiões com menores índices de poluição luminosa do que a apresentada em seus entornos, com potencial muito maior de observação astronômica. Verdadeiras ilhas potenciais de escuridão.
No entanto, aglomerações urbanas próximas às UCs tendem a alterar significativamente o brilho do céu noturno e são facilmente identificáveis por meio das longas exposições realizadas na fotografia de paisagem noturna, permitindo, inclusive, mapear a interferência dessa luminosidade artificial dentro dessas unidades de conservação.
O projeto A Luz Oculta tem por objetivo utilizar a fotografia de paisagem noturna para fomentar a discussão sobre a questão da poluição luminosa, seus efeitos e soluções para sua mitigação. Ademais, outros resultados esperados por meio da divulgação do projeto e da parceria com a Fundação Florestal do Estado de São Paulo estão associados às oportunidades do público geral em compreender as questões ambientais vinculadas à poluição luminosa, aprender sobre a dinâmica do universo, entender conceitos de astrofísica ou, simplesmente, admirar e fotografar a beleza do cosmos por meio de oficinas e atividades que podem ser desenvolvidas no interior das Unidades de Conservação do Estado de São Paulo.

Referências
Dark Sky International. (12 de 02 de 2024). Fonte: https://darksky.org/resources/what-is-light-pollution/
Fabio Falchi, P. C. (2016). The new world atlas of artificial night sky brightness. Science Advanced.
IBGE. (12 de 02 de 2024). Fonte: https://www.ibge.gov.br/explica/pib.php
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