Ensinar fotografia é uma das coisas que mais gosto de fazer. No nível mais básico eu acho mágico aquele momento em que o aluno passa a verdadeiramente entender os mecanismos da câmera e sente-se confiante o suficiente para tomar decisões fotografando no modo manual, fazendo escolhas técnicas em função da estética que busca na fotografia e trabalhando a reciprocidade na câmera para obter uma exposição adequada. Infelizmente, poucas pessoas que se entendem como fotógrafas dominam esses aspectos totalmente e muito disso vem da superficialidade ou da ausência de uma instrução básica adequada.
Duas coisas que atualmente ouço muito e que são equivocadamente valorizadas, me causando arrepios são: "sou autodidata" e "não tenho referências". É indiscutivel a inversão de valores em boa parte da população no Brasil, cujas razões merecem uma discussão muito mais ampla, mas com certeza perpassam o interesse comercial e político de glorificar o tosco, o supérfluo e o efêmero em detrimento do rebuscado do fudamental e do perene. Se todos os cidadãos buscassem os três últimos, os governos teriam um problema social urgente e pulsante muito maior para gerenciar e o mercado seja ele de produtos ou da arte, teriam consumidores muito mais críticos e exigentes para atender.
A grande democratização da exposição individual que veio com o advento da internet e das redes sociais, trouxe consigo um incremento exorbitante nas possibilidades de se estudar qualquer coisa com o oferecimento dos cursos gravados vendidos aos milhares sobre qualquer assunto e por qualquer "professor", entenda ele ou não verdadeira e profundamente sobre o tema que está sendo abordado. Na fotografia, muitos desses "professores" se enquadram naquela categoria dos que não dominam completamente conceitos básicos sobre fotografia, sobre equipamentos, sobre os grandes nomes da fotografia mundial e propagam essa cultura do "crie seu próprio estilo do nada" ou promessas de faturamentos elevados sem qualquer fundamento. Geralmente os perfis desses "professores" tem poucas ou nenhuma fotografia relevante produzidas por eles.
A crítica não é espeficificamente sobre cursos à distância ou gravados, muito pelo contrário. Há muita coisa boa na praça e é imensurável o valor da possibilidade de alunos cuja distância ou a rotina impediriam-no de estudar de forma presencial, passarem a participar de cursos e treinamentos. A questão é que na terra de ninguém que é a internet, principalmente para cursos livres como os de fotografia, a quantidade de picaretas no mercado é imensamente superior à dos profissionais sérios.
De qualquer maneira, quando penso em cursos não presenciais, mesmo sendo com bons professores, sempre me vem à cabeça a máxima "o bom é inimigo do ótimo". Vale a participação e eu mesmo já fiz ótimos cursos nesse formato, mas uma aula presencial de fotografia é uma experiência completamente diferente e com um aproveitamento muito superior ao de um curso à distância. A interação aluno-professor e aluno-aluno é um aspecto que eleva o nível de aprendizado, bem como as aulas práticas e saídas fotográficas estabelecem a definitiva e duradoura sedimentação dos aspectos técnicos abordados em sala de aula.
A foto que trago para ilustrar esta discussão foi feita exatamente em uma situação de saída fotográfica de uma das edições dos meus cursos de astrofotografia. A idéia foi registrar os alunos trabalhando sob a projeção da nossa galáxia sobre essa árvore isolada que tem um significado muito especial para mim, pois já foi palco de muitas noites de acampamento e diversão familiar, além de ter servido inúmeras vezes de abrigo e ponto de encontro em meio à fogueiras, comidinhas, vinhos e bebidas bem quentes para alunos e professores que vem participando desses cursos e workshops dos quais tenho muito prazer e satisfação em oferecer.
Viva o contato acadêmico presencial. Viva a fotografia!
Ad astra!
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