Enfim o outono chegou! E com ele vem a época em que eu mais gosto de fotografar.
As chuvas torrenciais e diárias vão embora, o clima fica mais seco e a probabilidade de desfrutar de dias ensolarados e noites estreladas aumenta exponencialmente! Eu confesso que de novembro a março meu nível de humor desce a níveis bem baixos, haja a vista a quantidade de vezes que olho para o céu e só vejo nuvens. Quantas viagens já não cancelei e quantas noites deixei de fotografar por causa dos dias chuvosos…
Ademais, é nessa época do ano que ocorre o que podemos chamar de “temporada da Via Láctea”. É quando vemos a projeção da nossa galáxia durante a noite. Nos outros meses do ano ela está na esfera celeste durante o dia, impossibilitando fotografá-la.
Antes que algum mala sem alça comente, afinal eu já ouvi vários pares de vezes “mas nós estamos na Via Láctea. Como é que você diz que faz fotos dela. Está errado!”.
Eu respondo: “Vou te explicar, Einstein”.
Aproveito para explicar a qualquer pessoa sem soberba que tenha interesse em compartilhar comigo.
Nosso Sistema Solar está na periferia da Via Láctea. Há, portanto, uma quantidade enorme de estrelas entre nossa posição e o centro da galáxia nessa direção. O mesmo não acontece se olharmos para “o outro lado”, pois haverá uma densidade bem menor de estrelas entre nós e o espaço profundo.
As coisas no universo funcionam de uma maneira bem interessante. Sejam sistemas estelares, galáxias, cinturões de asteroides ou planetas com seus satélites naturais, as órbitas entre esses elementos sempre se organizam em um mesmo plano. Isto acontece porque tudo no universo, das maiores estrelas até as células do nosso corpo, tem a mesma origem: poeira cósmica.
Um sistema planetário se forma mais ou menos assim: quando porções de poeira e gás no universo sofrem alguma perturbação, em linhas gerais induzidas pela morte de uma estrela “próxima” muito grande, que é um dos eventos mais catastróficos e energéticos conhecidos, começam a se aglutinar pela atração gravitacional. Cada vez maiores e massivas essas aglomerações de partículas vão atraindo mais material do entorno, os quais pela mesma atração gravitacional vão se organizando e girando em torno desse centro mais massivo. A força centrífuga desse movimento de rotação faz com que esse conjunto vá se achatando no formato de um disco. O material em rotação, por sua vez também passa a se aglutinar em vários outros conjuntos menores, “limpando” a sua órbita em torno do corpo massivo maior e formando outros corpos celestes.
Muito, muito, muito, muito resumidamente é assim que se forma um sistema planetário.
Fato é que tudo no universo em linhas gerais funciona dessa maneira: sempre há um objeto mais massivo no centro e outros objetos orbitando ao seu redor. No caso da Via Láctea há um buraco negro supermassivo em seu centro, conhecido por Sagitário A* (fala-se sagitário A estrela), que tem 4 milhões de vezes a massa do Sol e está a 26.000 anos-luz de nós.
Como é de se esperar, quanto mais próximo do objeto massivo, maior é a aglomeração de estrelas e sistemas planetários orbitando-o. É por esse motivo que ao apontar uma câmera em direção ao centro da galáxia, conseguimos obter imagens maravilhosas de estrelas e nebulosas, que nada mais são do que aglomerados de poeira e gás cósmico.
Entre março e outubro conseguimos fazer esses registros durante a noite, pois nossa posição em relação ao centro da galáxia é favorável a isso. Nos outros meses estamos “de costas” para essa região mais massiva, no período noturno.
Claro que, mesmo fora da “temporada da Via Láctea” há diversos objetos de interesse para se fotografar durante a noite, no entanto, como mencionei anteriormente, as condições climáticas tornam qualquer planejamento de viagem com essa intenção um pesadelo e me deixam muito ranzinza. Ultimamente eu abandonei completamente os planos para fazer astrofotografia entre novembro e março. Se por um acaso eu estiver em algum local propício nesse período, ao caso, e der certo…é lucro!