Deixei de comer carne há quase 4 anos. Mesmo quando consumia, nunca fui um carnívoro inveterado, muito pelo contrário, quanto menos a carne parecesse um bicho, melhor.
Carne mal passada, com ossos ou gordura, nem pensar. Quanto mais descaracterizada era melhor para mim. Em meados de 2019 tendo em vista alguns resultados de exames clínicos decidi fazer a experiência de eliminar o consumo de carne da minha dieta.
Tendo em vista essa minha relação de certa rejeição foi muito fácil esse processo. Mas eu tenho algo a dizer: se você gosta de consumir carne, consuma! Sim, sim, um vegetariano incentivando um carnívoro a consumir carne. Eu sou da opinião que desde que não seja ilegal, imoral ou faça mal à saúde, não devemos fazer restrições forçadas.
Acho muito curioso nas prateleiras dos mercados os produtos vegetarianos/veganos que buscam imitar a textura e o sabor da carne de forma artificial. São destinados a um público que não consome carne por questões ideológicas e, no fundo, sofrem por causa disso. Arrisco a dizer até que muitos o fazem para se sentir parte de um grupo que se sente moralmente superior. É puro ego. Esse é um dos aspectos que eu acho mais triste no vegetarianismo/veganismo.
Além do aspecto triste, há o aspecto irritante dos dois “lados”: todas as piadinhas e comentários sarcásticos pelo fato de alguém não consumir carne e, em contrapartida, a pregação insuportável das pessoas que se acham super do bem, espiritualmente superiores e esclarecidas por não consumir proteína animal.
“Que frescura, você não come carne” Se você soubesse como esse tipo de fala faz com que meu espírito sempre buscando serenidade e compreensão desça até as camadas mais profundas do ódio, não faria esse comentário.
Meu amigo, coma sua picanha aí e não me amola. Tem jeito?
Parceiro, coma seu falafel e deixe as pessoas consumirem o que elas gostam. Não queira se achar um enviado das esferas celestes para salvar o planeta. Não percebe como isso é prepotente?
Esse comportamento não é exclusivo à questão do consumo ou não de carne. É inerente ao comportamento humano de querer controlar a vida dos outros. Na verdade, incomoda a maioria das pessoas não identificar no próximo afinidades que o incluiriam no mesmo grupo. A tal “diversidade” (termo que já passa a se tornar cafona, assim como qualquer chavão repetido à exaustão e sem nenhum critério), não funciona na prática: as pessoas são intolerantes e tem dificuldade em aceitar em paz as escolhas dos seus semelhantes, mesmo que tais escolhas sejam completamente irrelevantes à condução de suas vidas.
Experimente chegar a uma festa, um churrasco regado à cerveja e dizer que não consome álcool.
Participe de uma roda de conversa, principalmente masculina, e diga que não gosta ou não acompanha futebol.
Esses padrões de comportamento são utilizados por muita gente para se sentir parte de algo maior. Da mesma forma que boa parte dos vegetarianos ou veganos seguem essas dietas de maneira forçada, muitas pessoas sequer gostam tanto daquela cervejinha ou acompanham os jogos dos campeonatos de futebol com tanto fervor. Simplesmente o fazem para se sentirem parte de um grupo, um clã.
Então meu amigo e minha amiga, se um dia nos encontrarmos me deixe em paz com meu omelete de queijo e meu desinteresse por futebol, que eu te deixo em paz com a sua linguiça e sua camisa de time. A cerveja ainda pode ser um ponto de convergência.
Por enquanto.