ALÉM DA FOTOGRAFIA

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Serra da Capivara

O Parque Nacional Serra da Capivara possui uma das maiores concentrações de sítios pré-históricos do mundo e fica bem aqui, no Nordeste brasileiro, no sudeste do Estado do Piauí compreendendo parte dos municípios de São Raimundo Nonato, João Costa, Brejo do Piauí e Coronel José Dias.

O Parque foi criado em 1979 e sua relevância e importância é tamanha que em 1991 recebeu o reconhecimento da Unesco como Patrimônio Mundial. Em seus 130 mil hectares estão distribuídos mais de mil sítios arqueológicos, sendo que em cerac de 600 há pinturas rupestres desde a mais remota presença do ser humano nas Américas. Destes, 170 estão disponíveis para visitação pública.

O Parque Nacional Serra da Capivara é um espetáculo histórico, arqueológico, geológico e biológico. Adentrando cerca de 40% de toda a Caatinga protegida no Brasil, fazemos uma verdadeira viagem no tempo observando pinturas rupestres, caminhando sobre formações rochosas que um dia foram fundo de rios e se abriram em enormes cânions com paisagens de tirar o fôlego e observamos grande diversidade de pássaros e outros animais, bem como a enorme variedade de espécies vegetais de importância ímpar para a manutenção dos ecossistemas existentes no Parque.

Arqueologia

Sem sombra de dúvida, uma das atividades mais incríveis realizadas no Parque é a visitação das “tocas” com as pinturas rupestres. São momentos de encantamento e reflexão profunda, uma vez que ninguém sabe ao certo qual era a função desses registros, tampouco qual era o papel das pessoas que os faziam. Eram artistas? Professores? Contadores de histórias? Qual a importância deles naqueles grupos pré-históricos? Pessoas de elevada relevância social, meros habitantes comuns das cavernas ou, pelo contrário, indivíduos de menor prestígio que executavam aqueles desenhos por ordem de alguém? Essas reflexões defronte a enormes paredões com milhares de pinturas faz com que nossa mente expanda ao ponto de mudar para sempre nosso perspectiva e consciência sobre quem foram nossos ancestrais no planeta Terra.

Uma das principais visitações de sítios arqueológicos é a enorme parede rochosa do Boqueirão do Sítio da Pedra Furada, com milhares de pinturas rupestres. Este local conta com iluminação especial para visitação noturna, provendo uma experiência inusitada muito diferente da visitação diurna.

Paisagens

As formações rochosas constituídas predominantemente por arenitos, extremamente suscetíveis a erosão, além de proporcionar vistas panorâmicas espetaculares para fotografia de paisagem, nos contam a história geológica local com todas as alterações sofridas ao longo do tempo. O sertão era mar!

O bioma Caatinga é característico e preponderante na região do Parque. Caatinga em Tupi-Guarani significa “mata branca”, que é a aparência da vegetação na época de escassez de água. O que à primeira vista parecem ser galhos secos, nada mais são do que as árvores reduzindo seu metabolismo, se livrando das folhas e poupando energia para suportar a época de seca e temperaturas extremas. Em meados de novembro quando as chuvas começam a precipitar sobre a vegetação a paisagem torna-se verde e florida.

A Caatinga é o único bioma exclusivamente brasileiro.

Mesmo no clima seco do semiárido nordestino, locais mais abrigados da luz solar direta apresentam maior umidade e o desenvolvimento de vegetação com características de Mata Atlântica, principalmente quando há afloramentos de água subterrânea como é o caso do Olho d’água da Serra Branca.

Paisagens noturnas

O Parque Nacional Serra da Capivara está localizado em uma região com baixa poluição luminosa, o que é muito favorável à execução de astrofotografias. As paisagens cenográficas em primeiro plano compondo com a beleza do céu noturno permitem a realização de fotografias esplêndidas, inclusive com o registro de meteoros e grandes estruturas do espaço profundo, como aglomerados de estrelas, nebulosas e galáxias próximas.

Cultura local

É impossível dissociar a visita à Serra da Capivara das pessoas que habitaram o interior do Parque antes da instauração da unidade de conservação. Um dos locais para os quais os antigos habitantes foram mobilizados é a Comunidade Zabelê, um dos pontos de parada para conversas com as várias gerações de senhoras do povoado que, carinhosamente, preparam com carinho a melhor refeição da viagem para os frequentadores do Parque que visitam a comunidade.

No interior do Parque foram mantidas algumas das estruturas utilizadas pelos antigos moradores que até o início da década de 1980 viveram com suas famílias dentro das tocas naturalmente abertas nas rochas areníticas, praticamente do mesmo modo que viveram os executores das pinturas rupestres há milhares de anos atrás.

Uma das atividades econômicas mais conhecidas e reconhecidas realizada pelos habitantes da região é a produção de artefatos em cerâmica. A famosa fábrica Cerâmica Serra da Capivara escoa quase toda sua produção para grandes lojas de decoração em todo o Brasil.

A visitação à Cerâmica é indispensável. Além de ser acompanhada por explicações detalhadas sobre todo o processo produtivo é possível adquirir as peças com preços bem reduzidos na loja de fábrica.

Ciência e tecnologia

No entorno do Parque Nacional existem dois museus espetaculares: o Museu do Homem Americano e o moderníssimo e tecnológico Museu da Natureza. Ambos idealizados pela arqueóloga, pesquisadora e professora Niède Guidon, muitas vezes pouco mencionada nos canais oficiais, mas frequentemente citada com carinho por todos os profissionais que trabalham e pesquisam no interior do Parque.

Muito mais do que uma pesquisadora, Niède foi a idealizadora do Parque Nacional e figura fundamental para sua preservação. Além disso, é uma contestadora da teoria mais aceita para a chegada dos primeiros seres humanos à América, na qual teria ocorrido uma migração exclusivamente pela transposição do Estreito de Bering há cerca de 50.000 anos atrás. Sendo este o caso a ocupação do sul do continente teria se dado muitos milhares de anos depois.

As pesquisas coordenadas na Serra da Capivara indicam vestígios da presença de humanos de até 58.000 anos, corroborando com uma outra hipótese sobre a chegada dos nossos ancestrais às américas: vieram da Ásia pelo Oceano Pacífico e da África pelo Atlântico, uma vez que os níveis dos oceanos eram muito mais baixos e a presença de diversas ilhas, hoje submersas, viabilizariam a travessia com barcos muito simples.

O Museu do Homem Americano está localizado no município de São Raimundo Nonato e conta com um acervo incrível de peças de valor arqueológico, paleontológico, geológicos e botânicos resultado de cinco décadas de pesquisas na área do Parque.

O Museu da Natureza, localizado mais próximo ao Parque Nacional, no município de Cel. José Dias, foi inaugurado em 2018 e oferece uma experiência multissensorial com uma viagem pela história do universo e do desenvolvimento do planeta Terra, situando e correlacionando as eras geológicas e o desenvolvimento das espécies com o território da Serra da Capivara.

Tudo é apresentado de uma forma tecnicamente perfeita e totalmente palatável para qualquer idade, utilizando recursos interativos e didáticos com muita tecnologia agregada. Alguns dos principais atrativos são a simulação de vôo livre sobre a Serra, o filme no teto com narração da cantora Maria Bethânia e a modulação da antiga megafauna brasileira.

O Parque Nacional Serra da Capivara é o tipo de lugar que todo brasileiro deveria conhecer. É um templo de ciência, história, ancestralidade, identidade, paisagens e natureza. Só vai!

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