Na semana passada, 25.01.2023, a cidade de São Paulo completou 469 anos. Cidade na qual não apenas eu nasci, mas sou a 4ª geração de descendentes de italianos por aqui. Muitas histórias e legado familiar que em princípio fariam com que eu tivesse raízes firmes plantadas nessa cidade, mas…meu grande projeto de vida a médio prazo é ir embora para viver na Mantiqueira, a Serra pela qual sou apaixonado.
Eu tenho tanta coisa para falar sobre São Paulo…tantas críticas, tantos relatos bizarros, experiências de medo, de perigo, de desonestidade, enfim, essa cidade é de fato uma selva de pedra. No entanto, dessa vez eu vou dizer que o copo está meio cheio: apresentarei algumas fotografias que fiz aqui, no meio da cidade, e que parecem ter sido feitas no meio da floresta!
Eu sou suspeito para mencionar o quanto acho importantes os aspectos técnicos e tecnológicos da fotografia. Muito da minha produção seria impossível sem conhecer em profundidade os mecanismos da câmera e utilizá-los a meu favor de forma criativa para registrar os assuntos fotografados. Eu gosto muito de chegar ao limite dos equipamentos que tenho à mão no que se refere à exposição, buscando resultados alternativos à realidade ou aos limites da nossa visão. Muitas vezes quero que o receptor da minha foto entenda perfeitamente o que está vendo, porém que enxergue o assunto com uma estética que o surpreenda, completamente diferente do que nossos olhos registram.
Entretanto, jamais deve ser esquecido que fotografia boa, mesmo quando feita no maior primor técnico possível, nunca é boa se não tiver uma grande dose de poesia. Nesse sentido, um fotógrafo de verdade nunca “está” fotógrafo. Ele “é” fotógrafo. O tempo inteiro.
Por mais que não esteja com a câmera na mão, o olhar do fotógrafo não para. Vendo um filme, andando na rua, no restaurante, na peça de teatro. Nosso cérebro funciona com reconhecimento de padrões, assim, um fotógrafo de paisagem e natureza identificará assuntos perfeitos para fotografar em plena megalópole, da mesma forma que um fotógrafo de rua vai produzir muita coisa no meio da roça.
Estas duas fotografias, ambas bem “famosas” e bem demandadas para produção de quadros fine art, foram feitas a menos de 50 m da minha casa, na zona oeste de São Paulo, na praça na qual costumo fazer caminhadas.
Nesta mesma praça, já vimos tucanos, jacús, uma infinidade de outros pássaros menores da mata atlântica (sanhaços, periquitos, cambacicas, sabiás, bem-te-vis, pica-paus, etc) e até saguis. Quando falamos sobre com alguns vizinhos…. quase ninguém vê. Falta o olhar. Se importar. Um sujeito pode viver em um verdadeiro paraíso, porém se o que existe ao seu redor não lhe imprimir nenhum tipo de valor, sequer se dará conta das riquezas que o rodeia.
Essa outra foto tem uma história interessante. Uma cliente queria muito um quadro com uma foto minha, no entanto, ela queria um quadro com mais de 5 m de largura. Eu expliquei a ela, que, infelizmente, minha câmera não era capaz de produzir uma imagem que pudesse ser impressa com qualidade nesse tamanho. Ela insistiu. Sempre fico muito feliz quando alguém quer uma foto minha, valorizando muito além da estética da foto, querendo algo que eu tenha feito e não qualquer outro fotógrafo com uma foto bonita.
Propus então algumas composições, de 2, 3, 4, 5 quadros com fotos diferentes. Não convenci. Ela queria uma foto única, no estilo dos caminhos que costumo fazer dentro da mata.
Eu disse: “Marina, você consegue esperar mais alguns dias? Vou resolver isso, você vai ver”. Ela concordou.
Assim, na manhã seguinte de sábado peguei a mochila com meu equipamento, meu tripé, coloquei no carro e dirigi até a floresta… a 5 km da minha casa! Eu sabia que o Parque da Previdência, zona Oeste de São Paulo, tem um pequeno remanescente de Mata Atlântica nativa.
Adentrei à mata como estou acostumado a fazer e a cada cenário potencial que eu entendia que pudesse funcionar para o futuro quadro, eu fazia várias fotos no intuito de montar uma grande panorâmica. Foi sucesso! Eis a fotografia escolhida para o quadro de 5.20 m de largura do Hotel Lírio D’`água em Olimpia/SP.
Outro local que é um parque de diversões fotográfico, utilizado por muitos fotógrafos, inclusive estudantes, para fotografia de natureza, paisagem, casamento, crianças, família e o que mais se queira criar naquele lugar, é o Jardim Botânico de São Paulo. Eis alguns registros meus feitos por lá.
Espero que eu tenha conseguido trazer um pouco do olhar diferente que é possível exercitar até mesmo na cidade de São Paulo quando o assunto é fotografia de natureza e paisagem. Apesar de toda a destruição e ocupação majoritariamente sem qualquer tipo de planejamento urbano, após 469 anos ainda existe a possibilidade de se ver muita poesia nessa cidade, mas muita, mesmo
Há muitos outros lugares a se falar: os gigantes Parques do Ibirapuera e Villa Lobos e outras dezenas mais distribuídos pela cidade, assim como uma infinidade de praças com espécies arbóreas maravilhosas e frequentadas por inúmeras espécies de aves da Mata Atlântica.
Algum lugarzinho especial para me indicar? Eu adoro explorar.