ALÉM DA FOTOGRAFIA

Compartilhando histórias, pensamentos e dicas

Machu Picchu

Dizem que Machu Picchu no idioma quechua significa “velha montanha”. Acho que os Incas eram muito bons na agricultura e na engenharia, mas de geologia não manjavam muito, pois aquele terreno de velho não tem nada do ponto de vista geológico. É um jovenzinho. 

Machu Picchu é um destino, digamos, unânime. Um clássico frequentado por desde cientistas até blogueiras e “influencers” de roupas apertadas que fazem selfie com biquinho.  

Viva o Instagram. 

À sério, Machu Picchu é um dos lugares que eu tenho mais vivos em minha memória, mesmo fazendo 8 anos que visitei aquelas ruínas incríveis. Toda viagem tem um potencial enorme de nos modificar de alguma forma e a cidade sagrada dos Incas, de fato imprimiu em minha mente sensações, aprendizados e experiências inesquecíveis. 

Recentemente, em uma das aulas da Simonetta Persichetti no curso de Fotografia Latino-Americana, ela dedicou para falar sobre Martín Chambi. Esse fotógrafo peruano sensacional entrou para o meu hall de preferidos, sem dúvida alguma, ao lado de Ansel Adams, Edward Weston, Sebastião Salgado e Araquém Alcântara. Agora eu tenho um “top 5”. 

Chambí deve ter sido um dos primeiros ou até mesmo o primeiro a fotografar Machu Picchu, uma vez que a cidade foi “descoberta” em 1911. Se tiver interesse faça uma busca rápida na internet sobre as fotos dele. A mim, só fizeram rememorar as sensações que tive naquele lugar e de uma forma muito particular, que só um nativo poderia fazer. 

Essa aula da Simonetta foi como viajar para lá novamente em minhas memórias. Nos dias que a sucederam, passei a rever minhas fotografias de viagem, vídeos e não teve jeito: precisei escrever. 

Eu e Cintia fizemos uma viagem ao Peru em abril de 2015. Uma viagem de duas semanas, na qual deixamos Machu Picchu como cereja do bolo. Era nossa primeira viagem juntos como casal, digamos que tenha sido nossa lua de mel. Tem gente que vai pra Cancún. Nós optamos por cruzar o Peru na transversal, fazendo várias viagens insanas de ônibus e mochila nas costas, boa parte em estradas bem complicadas. Os perrengues e maravilhas de tudo o que fizemos antes de chegar a Machu Picchu conto em outras oportunidades. 

Machu Picchu não é um destino que basta “dar na telha” e ir. O acesso é controlado pelo governo peruano, havendo limite de pessoas para visitar a cidade. Me lembro de ter adquirido o ingresso vários meses antes da viagem, principalmente porque queria muito subir Huayna Picchu, que é aquela linda montanha que desponta na foto clássica de cartão postal, bem atrás das ruínas. Para subi-la são permitidas apenas 400 pessoas/dia, ao passo que para Machu Picchu o acesso é liberado para 2.500 pessoas/dia. 

Eu não vou tentar transmitir o que vi e senti naquele lugar. É inútil tentar, não vou conseguir com palavras. Vou, no entanto, compartilhar duas dicas que eu recomendo fortemente que você considere se um dia for para lá: 

 1 – Se tiver disposição, saúde e um preparo físico bom, não deixe de subir Huayna Picchu! Não precisa ser o John Rambo. Não sendo uma pessoa completamente sedentária já é suficiente. 

 2 – Não faça um bate e volta em Águas Calientes. Fique mais uma noite. 

Águas Calientes é a cidade base a partir da qual as pessoas e veículos partem para subir até Machu Picchu, caso não cheguem lá pela Trilha Inca ou a Salkantay. 

Eu não fiz a trilha Inca e acho que a Salkantay sequer existia, não tenho certeza. Me arrependo muito, mas na época eu ainda não era nem 10% do “explorador” que eu sou hoje. A propósito, foi em Huayna Picchu que o bichinho da trilha nos picou e de lá pra cá adquirimos muita experiência e não paramos. 

Geralmente a visita padrão a Machu Picchu é partir de trem de Cusco, que a propósito é uma viagem lindíssima, pernoitar em Águas Calientes e antes do Sol nascer pegar os ônibus que sobe até a cidade sagrada. Na sequência, fica-se lá até o meio da tarde e toma-se o trem do fim da tarde para Cusco. 

Sim, você pode fazer isso, mas se tiver a mesma expectativa que eu tinha, irá se frustrar. Eu queria ver aquelas ruínas desertas, fazer fotos sem ninguém, do jeitinho que eu via nas reportagens, documentários e cartões postais. 

Ocorre que todos os 2.500 turistas permitidos diariamente chegam junto com você pela manhã. Quando você desce do ônibus e dá uma espiada nas ruínas, sente como se estivesse em uma véspera de Natal na Rua 25 de Março em São Paulo ou no Saara no Rio de Janeiro. É um verdadeiro formigueiro que dá vontade de virar as costas e voltar para o ônibus. 

Entretanto não o fiz! Eu já sabia que o cenário seria esse, então meu planejamento sequer considerou circular pelas ruínas pela manhã. Fomos direto para Huayna Picchu fazer a subida, que aliás foi uma experiência incrível! 

A montanha é desafiadora, mas como disse, qualquer pessoa saudável consegue fazer, no seu tempo. O cume permite uma visão maravilhosa de toda a paisagem montanhosa do entorno e uma vista de Machu Picchu por outro ângulo. A descida, no entanto, pode ser um pouco incômoda para quem tem medo de altura, pois por algumas dezenas de metros é feita por uma escada de pedras muito estreita, sem qualquer local para apoio e com um penhasco imenso do seu lado direito. 

Eu tenho medo de altura. 

Confesso que foi desconfortável, mas deu certo. Faria de novo, pois vale muito a pena! Se você não é uma pessoa muito apavorada, faça! 

Acredito que demoramos em torno de 4 horas para subir, contemplar, fotografar e descer, incluindo uma visita ao Templo da Lua, uma edificação que sinceramente eu não consigo entender como os Incas conseguiram levar as pedras e materiais para erguê-la no cume da montanha. Eu mal conseguia lidar com a minha mochila… 

Depois de descer, considerando o tempo para nos recompor e comer alguma coisa eu acredito que perto das 13h estávamos prontos para explorar as ruínas. A cidade ainda bem cheia, como de manhã cedo, mas conforme o tempo ia passando, aquele zum zum zum dos turistas ia ficando mais baixo, distante. A densidade de pessoas ia diminuindo e transitar entre as muralhas ia se tornando uma experiência mais agradável a cada minuto. 

Iniciamos por baixo e fomos subindo os platôs das ruínas até chegarmos à parte mais alta da cidade, onde é possível ter a vista do cartão postal, ao vivo. Já havia passado das 16h e o Sol ia bem baixo, há pouco mais de uma hora de se pôr à esquerda de Huayna Picchu. Acredito que a essa altura 90% ou mais dos turistas havia deixado o local há tempos para poder retornar a Cusco no último trem do dia. 

Machu Picchu era nossa. 

Nossa e de mais uma meia dúzia de malucos ou bem-informados que sabiam que para contemplar a magnificência daquele lugar e o silêncio que o rodeia, era preciso estar lá até o final do dia. Foi esse o momento de fazer fotos, de sentar-se no mirante em frente àquela maravilha da humanidade e deixar a mente viajar, tentando imaginar como era aquele lugar quando os Incas o frequentavam e quanto sangue jorrou até que ali fosse o último refúgio, a última resistência, como diz a história. 

Fiquei muito tempo pensando sobre essas coisas e foi uma experiência inesquecível. Veja que não falei em energia em nenhum momento, pois eu nem vi tomadas por ali para eu enfiar o dedo e sentir a energia do lugar. Eu sequer tinha um carregador portátil para colocar a língua e tentar sentir algo. Acho que não preciso explicar muito sobre o que eu acho sobre esse papo de energia, preciso? Posso ofender pessoas queridas. 

Fato é que, sim! Eu saí de lá outra pessoa. Subir Huayna Picchu, tudo que aprendi de história, os momentos de parceria com minha mulher e todas as reflexões que tive durante esse dia fizeram com que eu acrescentasse muita carga na minha bagagem intelectual e humana. 

Viajar é isso: oportunidades de crescer e se desenvolver. Cada tijolinho que colocamos no aperfeiçoamento do nosso intelecto vai influenciar tudo o que fazemos e eu não consigo imaginar ninguém retrocedendo com isso. Sempre avante! 

E sobre você? Qual seu próximo destino?

Caso conheça alguém que possa se interessar por este conteúdo, compartilhe-o!