A adoção do dia 08 de março como comemorativo do dia internacional das mulheres teve origem em uma manifestação na Rússia, na qual milhares de mulheres se reuniram em uma passeata para reivindicar direitos para o gênero feminino, bem como o fim do que conhecemos hoje como a primeira guerra mundial.
No entanto, esse não foi um evento isolado e fez parte de um movimento que já vinha acontecendo há muitos anos também na Europa e nos Estados Unidos. As condições de trabalhos das mulheres, grande força motriz de muitas indústrias no início do século XIX, eram péssimos. Salários baixíssimos e cargas horárias desumanas vinham aquecendo esse caldeirão e criando lideranças femininas por todo o mundo industrializado da época.
Muitos anos depois, em 1975, a Organização das Nações Unidas (ONU) reconheceu e estabeleceu o dia 08 de março como uma data de celebração e luta pelos direitos das mulheres. Um detalhe importante: é uma das poucas datas comemorativas que não foi criada pelo setor de comércio.
Essa é a origem. É muito importante sabermos a origem das coisas para não fazer falsos julgamentos ou criar discursos lacradores, tendência atual, afinal todo mundo quer um “like” e está muito fácil angariar rebanhos na internet com esse tipo de retórica.
Até muito recentemente felicitar uma mulher pelo Dia Internacional das Mulheres era algo bem visto, desejado e até cobrado, caso algum esquecidinho deixasse a data passar em branco.
Flores, chocolates, beijos e abraços sempre fizeram parte das comemorações desse dia.
Algo aconteceu em 2023.
Perdi a conta de quantas mulheres eu ouvi e vi aproveitando a oportunidade para desdenhar das felicitações e rasgar um discurso sobre a sociedade patriarcal, machista e desigual bem na cara do muitas vezes pobre coitado, como esse que vos escreve, que genuinamente estava feliz em comemorar a importância e relevância das mulheres na nossa sociedade, bem como ser um defensor inveterado da igualdade de gêneros.
A palavra “comemorar” tem como raiz relembrar em conjunto (“co”-“memorar”). Nós comemoramos algo em um dia específico porque é muito complicado enaltecer alguma coisa ou alguém, todos os dias. Para tanto, definimos datas específicas exclusivas para nos dedicar a festejar um evento ou uma pessoa.
Eu compreendo perfeitamente o discurso da sociedade patriarcal, machista e opressora em relação as mulheres, mas… amiga, por favor: cuidado com o fogo amigo.
Partir do princípio de que todos os homens são machistas e opressores é na melhor das hipóteses uma ilusão, baseado em conceitos ideológicos radicais. Na pior das hipóteses é má fé, mesmo.
Eu entendo que nossa sociedade vem passando por uma explosão de ânsia por igualdade e respeito à diversidade e fico muito contente com isso. Eu enxergo um futuro em que ninguém mais sequer compartimentará a sociedade em minorias que precisam sentir orgulho do seu gênero, orientação sexual ou cor da pele. Pode ser um sonho meu, mas eu gostaria muito de viver em uma sociedade no futuro em que tais aspectos sejam simplesmente irrelevantes e todos possamos nos enxergar sob somente uma ótica: pertencemos à mesma espécie. Somos todos Homo sapiens sapiens e isso será a única coisa que importa.
Enquanto esse dia não chega, as minorias, muitas vezes oprimidas, obviamente necessitam desse posicionamento identitário para exercitar sua força e se unir para buscar o caminho da igualdade de direitos. Entretanto, gostaria de deixar uma reflexão para você que se sente representado por algum grupo oprimido: é importante considerar que aquele indivíduo que pertence ao grupo que você enxerga como opressor, pode ser um grande aliado na sua luta e que, rejeitando-o você causa apenas segregação, divergindo completamente do caminho da igualdade e fraternidade que eu tanto sonho.
Eu sou homem, branco e heterossexual. Apesar de características tão repugnantes, vai por mim, minha amiga: “tamo junto”!
Aliás, o que tem de mulher machista por aí e, por outro lado, “feministas” que pregam a competição entre homens e mulheres e alimentam algum tipo de “vingança”, não está escrito. Cuidado!
Cresci em uma família na qual meu pai e minha mãe desempenharam atividades similares durante toda a época em que vivi com eles. Por muitos anos minha mãe estudou aos finais de semana, enquanto meu pai cuidava de nós providenciando as refeições (cozinhando mesmo. Não tinha essa de delivery, não), lavando as roupas e deixando a casa em ordem. Por outro lado, muitas vezes meu pai precisava trabalhar até tarde da noite e lá estava minha mãe assumindo o leme do barco e nos assistindo. No momento de decidir qualquer assunto doméstico era sempre uma arguição entre os dois, as vezes muito longa até, no caso de terem pontos de vista distintos.
Eu cresci assim, em meio à igualdade. Conforme fui deixando de ser criança e caminhando em direção à vida adulta, passei a saber de situações chocantes e revoltantes. Convivendo com outras realidades e pessoas, descobri que havia homens que agrediam mulheres, abusavam sexual e psicologicamente delas e as humilhavam. Soube que havia diferença de salários entre pessoas de gêneros diferentes para a mesma função e havia assédio moral e sexual no trabalho. Esse tipo de situação nunca foi banal para mim.
Hoje convivo em casa com três mulheres: esposa e duas filhas. A história que tive com meus pais se repete. Assim como eu, muitos homens foram forjados dessa forma e não precisam ser desconstruídos, pois nunca houve uma construção de uma personalidade e caráter que posicionasse a mulher em um plano inferior que não a pertence. Desde sempre, todos estamos no mesmo patamar.
Então, minha amiga, se você aceita um conselho e pretende vivenciar aquele ideal de igualdade, e não de competição entre homens e mulheres, preste atenção ao seu redor. Eu tenho certeza que há muitos aliados ao seu lado, de todas as cores, orientação sexual e gênero. Talvez muito mais aliados do que inimigos! E quando esses aliados sorrirem para você no próximo dia 08 de março, em 2024, e te parabenizarem pelo seu dia comemorativo, sinta-se homenageada e apoiada de verdade.