O marketing muitas vezes é visto como uma atividade maligna e perversa. Confesso que já pensei muito dessa forma até há pouco tempo atrás, no entanto, me embrenhando no assunto devido à necessidade de gerir um perfil comercial no Instagram, venho mudando a minha percepção sobre isso. O marketing não é malvado; é neutro, indiferente. São técnicas para dar ciência às pessoas sobre um produto ou serviço e, quem sabe, fazê-las sentir necessidade de adquirí-lo.
A decisão de profissionalizar a fotografia, precisamente por meio da venda de quadros com as minhas fotos, me obrigou a ingressar no universo do “marketing digital”, mais um termo que eu acho meio cretino. Existe marketing, independente do meio em que ele é feito. Fora disso, mais uma vez é gourmetização: revestir algo antigo com um nome novo para dar um ar de contemporaneidade.
Quando eu digo que fui obrigado, não é exagero. O Brasil, informalmente, é uma sociedade de castas. Apesar de haver divergências sobre fotografia ser arte ou não, na prática quando você utiliza uma foto para produzir um quadro, a intenção é direcionar esse produto às pessoas que consomem arte ou artigos de decoração.
Se um sujeito não vem de uma descendência, uma casta, que tenha um legado nas artes ou na fotografia ou não vem de uma família que frequente esses círculos, a trilha para se chegar ao cume dessa montanha é mais longa e íngreme.
Sob esse aspecto, as redes permitiram democratizar as possibilidades de divulgação e acesso a potenciais compradores e isso é muito bom. Quando as redes não existiam, a propaganda de um produto ou serviço era realizada por meio dos veículos de comunicação disponíveis, de forma homogênea, uma vez que não era possível selecionar com precisão o direcionamento destes anúncios. Muitas vezes um “reclame” como dizia minha avó, passava no intervalo da novela e atingia homens, mulheres, crianças, jovens, idosos, enfim…a todos. Poderia ser o anúncio da final do campeonato brasileiro de futebol ou um comercial de maquiagens. Todo mundo era capturado pela propaganda.
Hoje isso é muito diferente. A velocidade, amplitude e disponibilidade das redes sociais mudou completamente a forma como as empresas ou as pessoas interagem entre si e a informação chega aos receptores. Os algoritmos conseguem direcionar anúncios de produtos a públicos extremamente específicos. Uma lanchonete de bairro consegue anunciar para pessoas que residam apenas no raio de dois quarteirões no seu entorno. Eu, estando em São Paulo consigo fazer anúncios específicos e vender um quadro a um indivíduo em Pernambuco, com idade entre 40 e 60 anos, interesse em mar, decoração e viagens de aventura. É um universo de possibilidades que funcionam tão bem quanto melhor forem as estratégias das campanhas de anúncios.
Parece incrível, não é?
E até certo ponto é incrível, sim. Não fosse o fato de boa parte das pessoas que consomem conteúdo na internet estarem ali apenas para tirar sua mente do mundo real e colocá-la na caixa do nada, usufruindo de momentos anestésicos e letárgicos, naufragando em um oceano vazio.
Isso tornou a rotina de quem precisa da internet para divulgar seu trabalho algo super desafiador: é necessário afunilar o público de maneira tal que otimize o estreitamento de relações com quem realmente se importa com o conteúdo que eu tenho a oferecer. No meu caso, fotografia e quadros fineart, porém sempre permeado pelo compartilhamento de informações culturais e científicas, algo que gosto demais!
Me perdoe se soar um pouco elitista, mas não é essa a intenção: o fato é que cada vez menos pessoas tem interesse em arte, cultura e ciência. Cada vez mais quem se interessa por esses assuntos é tido como esquisito na grande maioria dos círculos sociais em nosso país. E sinceramente…não vejo nenhum futuro promissor a qualquer sociedade que negligencie estes aspectos.
A internet trouxe a informação disponível e acessível a muito mais gente do que jamais aconteceu na história da humanidade. E o que fizemos com isso? Nos tornamos em boa parte consumidores de desinformação, conteúdos irrelevantes e, em muitos casos, passamos por um verdadeiro processo de bestialização, buscando conteúdos cada vez mais associados aos vícios e necessidades mais abissais de um ser vivo: comer, beber e se reproduzir. Vemos isso na música, no cinema, na televisão… talvez não nos livros, porque hoje em dia quase ninguém lê.
Não estou exagerando. Testado e comprovado: um vídeo de 15 segundos do meu gato lambendo as partes intimas gera 10 vezes mais engajamento do que um vídeo meu super elaborado de 90 segundos, cheio de informação, com roteiro escrito e edição cuidadosa.
Então repito, minha dica para quem assim como eu, acha que o caminho para divulgar seu trabalho artístico, científico e cultural está nas redes sociais, cuide e estude o público que quer atingir, caso contrário ficará mergulhado em um mar de seguidores que não se importam com seu conteúdo e, perversamente, as redes não o entregarão a novas pessoas devido à falta de engajamento.
Admirável mundo novo!