ALÉM DA FOTOGRAFIA

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Fotografia “comercial” X “artística”

Fotografia “comercial” e “artística”.

Isso existe? 

A resposta curta, como a resposta curta para quase tudo nesse mundo é: depende. 

Começo questionando a irritante mania que o cérebro humano tem de querer classificar tudo. O marketing se aproveita disso, obviamente, e nos apresenta sempre “novidades” que na verdade não o são. Geralmente, trata-se apenas de coisas que já existem há muito tempo, repaginadas e com um novo nome bonito que, com o tempo acaba se tornando brega e cheirando a naftalina. O “brigadeiro gourmet” está aí para confirmar o que estou dizendo. 

Certa vez, uma pessoa me questionou sobre a quase ausência de produções de quadros e propostas no meu perfil do Instagram com o tema “Fotografia de paisagem noturna” (prefiro evitar o termo “astrofotografia”, vide o primeiro parágrafo). 

Quando essa pessoa me questionou sobre eu não utilizar fotografias noturnas nos meus projetos foi justamente por saber que é um dos temas fotográficos que eu mais me dedico, porém, não o utilizo nas opções que ofereço às pessoas quando demandam o planejamento de um quadro. 

Eu disse a ela: “Não utilizo porque acho que não cabe em quadros para decoração”. 

Ela: “Quem disse???? Eu adoraria ter um quadro com esse tema em uma parede!”. 

Fiquei pensando: “De onde tirei essa ideia de que não cabe minhas fotos noturnas nas propostas de quadros?”. Pensei, pensei, resgatei minhas memórias e percebi que sempre ouvi isso de pessoas que não fazem esse tipo de fotografia, que convenhamos, é um dos temas mais tecnicamente desafiadores e trabalhosos de se produzir. Não é para qualquer um. É preciso estudo, domínio do equipamento, prática, planejamento, conhecimento básico de astronomia e ciências da terra e paciência para conseguir bons resultados nesse universo. Se você conhece a fábula de Esopo “A Raposa e as Uvas”, acho que não preciso me alongar muito sobre o que estou tentando dizer… 

Entretanto, não é só o desdém de alguns que fez com que eu criasse esse “pré” conceito. Também é muito recorrente o entendimento de que comercialmente é mais adequado produzir imagens claras, com passagem de tons bem suaves, sem grandes contrastes. Tudo o que a fotografia noturna não tem. 

Claro que a probabilidade de agradar ou, na pior das hipóteses, não desagradar alguém é muito maior com uma imagem menos contrastada, com tons mais equilibrados, cores análogas e passagens mais suaves entre elas. Entretanto, assim como para o mundo da arte, sou obrigado a me remeter à velha máxima “há gosto para tudo”. Algumas tendências funcionam muito mais para certos nichos do que para o público em geral. É uma questão de a imagem chegar no público afim. 

Comecei então a analisar minha produção. Percebi que por mais que eu tente algumas vezes produzir imagens menos “intensas”, as que acabam sendo escolhidas e impressas para confecção de quadros não tem nada de suave ou equilibrado. Se é colorido é bem saturado. Se é preto e branco é PRETO e BRANCO. Super contrastado. Tem foto escura. Penumbra. Céu colorido. É óbvio: essa é minha expressão, o reflexo de todas as referências que eu tenho na minha bagagem, convergindo para uma imagem. 

Não adianta tentar exprimir o que não está em nossa essência, pois com toda certeza, aquele que de fato tem essa essência vai conseguir resultados muito melhores do que os nossos! Precisamos ser autênticos, ter uma expressão sincera. Isso faz com que ao longo do tempo, desde que com produção constante e uma visão voltada para difusão do trabalho, vá se construindo um público que se identifica com aquele tipo específico de trabalho. Pode demorar se não for o convencional? Pode, mas é importante ter em mente que não adianta ser o que não somos. Isso reprime nossa criatividade e nos torna repetitivos. Com o tempo nossa produção pode se tornar tediosa para nós e para nosso público. 

Comercializar o produto ou o serviço do fotógrafo é muito importante para quem quer viver exclusivamente da fotografia, no entanto, no meu caso eu considero que essa importante função do meu trabalho, que é material, não é um objetivo exclusivo: quero deixar um legado que, eventualmente, tenha alguma relevância para as pessoas de hoje e para as do futuro. É um pouco egocêntrico? Talvez. Eu me importo com isso? Não. Quero ser um agente que traz às pessoas registros das paisagens do nosso planeta que as façam ter contato com o ambiente natural e até ir além: motivá-las a desbravá-lo e protegê-lo. Nem que isso transcenda minha existência. 

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